Passei a observar certos estereótipos criados a partir do uso recorrente de algumas palavras.
Numa sessão de câmara legislativa, um representante do povo se referiu à plenária presente, composta por estudantes universitários e professores , com a seguinte expressão: “ESSE POVARÉU AI”. Foi vaiado.
Povaréu rima com escarcéu. Rima com beleléu. Sem dúvidas, o nobre edis quis menosprezar as pessoas presentes. Usou um aumentativo para o substantivo povo com esse objetivo.
O sentido literal de quantidade de pessoas, que a palavra povaréu carrega, ficou preterido pelo sentido carregado de preconceito. O grau aumentativo do substantivo povo usado dessa forma, soou como uma bofetada na face dos presentes. Reação imediata. Somos de fato o povaréu. Cheios de orgulho de fazermos parte desse povaréu.
Em tempos de maniqueísmo, entre a bondade dos maus e a maldade dos bons, entre os cidadãos de bem…é ótimo sermos pertencentes à classe POVARÉU.
Diante do brado forte : povaréu… povaréu…povaréu, calou-se o orador e a plenária ratificou sua identidade genuinamente. Sem medo de demarcar na pirâmide social seu verdadeiro lugar.
Na sequência dos dias, eis que outro orador da esfera federal, dirigi-se a manifestantes de ato democrático como PESSOALZINHO. Agora chegou a vez do grau diminutivo.
A palavra”pessoal” para denominar grupos do povo, já generaliza. Imagina, a palavra pessoalzinho. O sentido usado era para diminuir a importância do ato de protesto. Ao chamar de pessoalzinho, o sentido carregado de menosprezo, não conseguiu seu intuito, pela força do atual contexto, o tal pessoalzinho era na verdade milhares…E o que era para ser “inho” foi “ão”: MULTIDÃO.
Tiranos, tremei ao ouvir o brado do pessoalzinho, do povinho, do povão, do povaréu…
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