O Brasil é uma criança no contexto histórico da humanidade. Considerando, é claro, mais o tempo da invasão do que o tempo livre de seus reais habitantes.
Os reais habitantes, cuja denominação é povos indígenas. O que penso que poderia ser povos nativos. Esses tão massacrados, tão aviltados no seu direito de liberdade na terra onde nasceram, estão novamente na forte mira do exterminador.
O exterminador se reinventa de tempos em tempos.
Estamos no tempo do ódio explícito “odeio povos indígenas” “só há um povo brasileiro” vocifera autoridade educacional. “Congelamos o salário do funcionalismo por dois anos ” neutralizamos o inimigo ” Não vamos investir em pequenas empresas falidas” vocifera autoridade econômica….
Mas o pior de todos é o exterminador da democracia.
Porque esse tira o pão e o teto do irmão.
Porque esse tira a voz e a vez.
A voz é sufocada. A voz é comandada por mensagens repetidas. Pelas verdades inventadas. Sufocada por outras vozes ameaçadoras. “Cala a boca”…Cala a boca” ‘Se não tem pergunta inteligente, cala a boca” vocifera o presidente.
Vocifera o presidente, que cita mensagem bíblica : A VERDADE VÓS LIBERTARÁ.
O exterminador da democracia tira a vez do povo quando tira o direito ao leito hospitalar. Do respirador artificial !!!
Tira o direito ao acesso de internet de boa qualidade ao aluno que precisa acessar à educação a distância.
Tira o direito de receber informações corretas.
O exterminador da democracia nunca se refere aos excluídos. Ao menos não para apresentar programas de erradicação da fome, do analfabetismo, da falta de moradia, de saneamento básico…
O exterminador da democracia brasileira usa uma caneta BIC.
O período de isolamento social devido à pandemia da Covid 19 tem trazido boas lembranças.
O vinho é o melhor companheiro para bons recuerdos. Na vitrola, uma trova de bom cancioneiro…e à memoria, vem vindo, depasito os bons causos.
O dia é longo, a noite é ainda mais, em tempos de pandemia. Espaço fértil para as memórias.
Menino de família humilde, que cedo compreendeu o que é dar duro na vida. Assim se descreve meu amigo de parlas e copos de vinho.
Diferenciava-se pela alta habilidade de raciocínio lógico. Muito criativo. Características que o conduziram a vida toda.
Conta, com o olhar de menino levado que habita em sua alma, que sua criatividade causava ciúmes nos primos pertencentes a famílias em melhores condições financeiras. Era onde se destacava.
Primeiro gargalhadas. Depois o relato.
Com o dinheiro escasso na família, escasso também era a vestimenta para os moleques.
Entre um gole de vinho e uma boa risada, meu amigo descreve a forma como lhe vestiam.
Na época, os mantimentos como arroz, feijão, farinha eram comprados em sacas de 10 kg, 15 kg. Principalmente a farinha. Comprada no moinho.
A farinha vinha num saco feito com tecido de algodão. Nesse saco, estava impresso o nome do moinho, em letras garrafais, geralmente em vermelho forte. Espécie de carimbo: MOINHOS RIOGRANDENSES.
Para que o leitor saiba o motivo do causo ser contado entre pausas para as risadas, lá vai.
O tecido do saco de farinha era aproveitado, reutilizado na linguagem ambientalista de hoje, para calções para a gurizada, cuecas e calcinhas para os adultos.
Mas não havia sabão ou até mesmo a soda, muito usada para a lavagem de roupas, que fosse capaz de remover os letreiros.
E assim, no calção do nosso contador de histórias, ficava estampado no traseiro o logotipo MOINHO RIOGRANDENSE.
Estava,portanto, garantida a publicidade do moinho. E gratuita…
Mais risos, quando narra o presente do padrinho: um par de botas.
Ai o traje ficou completo. De calção e botas se tornou um gaúcho.
Revela que o padrinho pegou barbante que se costurava as bordas de sacas de estopas para medir seu pé e encaminhar as medidas ao sapateiro.
Seus olham são de um brilho intenso, quando descreve seu sentimento diante das botas,sobre o balcão da farmácia de seu padrinho. Lá estavam elas, me esperando. Ali nascia mais um gaúcho de fato.
Nem para dormir tirava as tais botas. Mesmo com a insistência da mãe. Aquele par de botas, é para mim, o símbolo dos passos firmes que segui pela vida a fora, completa ele , com o rosto sereno.
Mais uma taça de vinho. Mais uma memória.
” Sou da cidade de Redentora na região do alto Uruguai, no Rio Grande do Sul, Brasil.” A cidade recebia seguidamente circos. Diversão garantida para a gurizada.
Quando o circo ia embora aflorava a criatividade do menino das calças curtas.
Montava seu próprio circo. Às meninas ficam incumbidas de cada uma trazer um lençol. A armação já estava pronta com galhos de timbós, tipo de árvore com caule relativamente mole, fácil de cortar.
Todos os números circenses devidamente imitados. Trapézio. Globo da morte. Palhaçaria. Até mesmo tourada.Ele era o apresentador. ( hoje não teme um microfone…) Para tal, trouxe um terneiro, nem sabia de qual vizinho. Resolveu montar no animal. Eis que o terneiro disparou e o circo foi ao chão.
Na vida, muitos circos são montados. Nem todos são para entretenimento.
E a conversa com o menino de calças curtas se encerrou. Para entrar na conversa, um homem preocupado com o rumo do nosso Brasil, que se parece com menino vestindo calças marcadas. Com letreiros MADE IN CHINA. USA.