“Não calar nunca, nem fazer calar” foi o lema da minha turma de formandos do curso de Letras, no ano de 1984.
1884, o ano das diretas já!! O Brasil buscava sair do braço forte da ditadura militar.
Foi um movimento popular. Teve a duração de março de 1983 até abril de 1984. Um movimento que buscou a retomada das eleições diretas para presidente do país.
A eleição direta foi carro chefe do movimento. Mas se queria muito mais que a eleição, porque eleição não é garantia de democracia. A história vem provando isso. Havia o desejo de dizer.
As décadas de 80 e 90 foram as décadas da luta pela liberdade de expressão. Anos de muita criatividade na arte, na música, na literatura.Ops! Não nos enganemos. A supremacia branca, por exemplo, perdurou. Ainda muitas vozes de brasileiros e brasileiras continuaram caladas. Sufocadas…muita luta pelos direitos, entre eles, o direito de dizer.
Dizer é diferente de falar. Falar todos falam, de alguma maneira falam.
Dizer requer um sujeito histórico. Que utilize os códigos da língua, transforme -os em linguagem que por sua vez se forme através do pensamento, que depende do lugar onde está o sujeito. Vai dizer conforme sua formação histórica.Recordo um pensamento de MIKHAIL BAKHTIN ‘ o que ocorre, de fato, é que , quando me olho no espelho, em meus olhos olham olhos alheios; quando me olho no espelho não vejo o mundo com meus próprios olhos desde o meu interior; vejo a mim mesmo com os olhos do mundo – estou possuído pelo outro..” DIZER, portanto não é uma ação individual, embora pareça. Observo que:
Se a formação do sujeito for libertadora, o dizer será de paz e de justiça.
Se a formação do sujeito for autoritária, o dizer será certamente de preconceito e de ódio. Todavia,todo dizer jamais será um dizer neutro. Pois conforme Bakhtin o signo é ideológico.
Hoje, com o advento dos canais digitais, o dizer democratizou-se.
Ao mesmo tempo que a comunicação ficou linear, o dizer ocupou um lugar que metaforicamente se assemelha a uma pedra solta na beira de um abismo. O dizer ficou perigoso por demais.
Se ele sempre teve como premissas a responsabilidade e o compromisso com a verdade , agora então se o sujeito histórico quiser um lugar para se auto afirmar no seu direito de dizer , precisa deixar de ser papagaio repetidor , ou melhor parar de ser ” a tia do zap” responsável pelo compartilhamento de grande parte de fake news, o que não deixa de ser a falação a que me refiro aqui. DIZER, requer antes de mais nada respeito.
Concluo, com a remissão ao lema de 84. não calar jamais, nem fazer calar, sugiro no contexto atual, calar sim!! Se for para negar a ciência, não diga nada. Esse dizer é apenas uma fala ao vento. Mas não será necessário calar nem fazer calar, se teu dizer vier recheado de bem querer ao outro…
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