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Ditos e Não Ditos - By Martinha de Fátima Borba
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Iscas

18 de agosto de 2022 by Marta de Fátima Borba Nenhum comentário

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As palavras e seus movimentos nos contextos sociais é algo que me intriga.

Eu as vejo em movimento contínuo. Os efeitos de sentido delas acontecendo no ritmo da vida contemporânea, nenhuma palavra está imune a eles. Por isso a Língua é mesmo um fenômeno social, vivo, intenso.

A ressignificação das palavras no contexto sócio político, cultural e econômico se dá na mesma rapidez que “esses mundos” vão se também ressignificando na esfera social, onde tudo acontece.

Pincelei uma palavra escrita no balcão do açougue. ISCAS.

Pois bem, a palavra iscas por muito tempo ou o tempo todo fora usado pelos pescadores. “Comprei iscas para nossa pescaria do final de semana” ” Usei minhocas para fiscar o peixe” No máximo, aparecia na linguagem policial ” fulana foi usada como isca para atrair a vítima ou o suspeito…” Agora, usada no cartaz de promoção de carne em lasquinhas no açougue!

Viva a semântica !!!

Abaixo o preço altissimo da carne!!!

Abaixo a exportação da carne bovina e a ausência do mecanismo regulador desse nefasto negócio.

O cartaz promocional anunciava o preço do Kg das iscas: $ 46,00.

Perguntei de que parte do boi eram as iscas. O  atendente respondeu-me”é maminha”. Carne denominada nobre. Nada nobre é o preço de importante proteína que sumiu do prato do povo brasileiro.

A visão mais atenta às promoções do açougue foi possível encontrar outras iscas menos nobres. Iscas de fígado, de pele de galináceo, moídos de toda sorte.

O povo brasileiro está na posição de iscas! Principalmente nesse período de eleições. Tubarões em busca de iscas fáceis. Vem vestido ou transvestidos de terno e gravata, os do agropop ou agropastor, vem em cardume gordo, alimentados por boa picanha, e nada de lasquinhas.                                                                                O alimento deles é recheado por carne nobres e temperado pelo suor e sangue de uma massa trabalhadora que não se permite          comer iscas, mas está na iminência, de novo,  de virar iscas.

Caso o povo lambari não se agrupe tornando-se maior do que a boca do tubarão, mais uma vez será isca facilmente engolida.

 

 

 

 

 

 

 

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A Carga dos Sobrenomes

14 de julho de 2022 by Marta de Fátima Borba Nenhum comentário

Quando o império romano expandiu em território e em  habitantes, houve a necessidade de identificar o povo, já eram milhares de Joãos e Marias.  Veio a ideia do sobrenome!

Alguns escolheram o sobrenome conforme seu comportamento ou personalidade surgiu o sobrenome Severo……ou pela atividade profissional apareceu o Ferreira; por nome de plantas Pereira; por nome de coisas Leite; por nome de animais Gato, Pulga…(hic)

E mais tarde a cultura européia com perfil patriarcal estendeu o sobrenome para as mulheres, primeiro os pais para as filhas, depois os maridos para suas mulheres. As mulheres e seus dotes  com perda do sobrenome, a troca de uma carga por outra, e na maioria das vezes nada leve.

Homens e mulheres escrevem suas histórias e vão perpetuando os sobrenomes. Alguns deles viram uma dinastia. Através dos sobrenomes e sua respectiva carga de feitos, de lugar onde reside, de ocupação profissional, as pessoas vão sendo tipificadas. Como um código de barra, os sobrenomes carregam fortunas ou infortúnios.

Os sobrenomes ajudam a organizar e reorganizar o lugar social dos sujeitos.

Na nossa sociedade brasileira, os sobrenomes são também formas de práticas preconceituosas.

No lugar onde moro, o sobrenome  com valor* se parece com  cartão de crédito, depende do montante depositado para que portas se abram , até portas do amor!

Atualmente há uma forte polarização entre Silva e Bolsonaro por conta da disputa eleitoral. Os silvas estão há séculos na história e sabe-se sua origem. Já, bolsonaro entrou há algumas poucas décadas na história política. E parece, que o estrago já é bem maior!!!

Os Silvas estavam e estão espalhados na pirâmide social. Sendo que, a maioria dos silvas se encontram na faixa social maior, na base, onde está a massa trabalhadora.Bem demarcado seu lugar social! Difícil aceitar que Silva ocupe sua parte na elite econômica, social e cultural…

A disputa do poder político mostra a disputa entre Silvas e Heizen, por exemplo. Ambos representam causas distintas. Fica evidente que a luta de classe está presente na carga do  sobrenome.                               Senzala e casa grande se cruzaram e se formou a nação brasileira!  Ainda que se queira negar a mestiçagem do povo, ela é legitimada nos registros de nascimento. Sobrenome de bisavó e bisavô. Avó e avô . Sobrenomes que demarcam a genealogia africana, indigenista, alemã, polonesa, italiana, japonesa, francesa…sem fim a tal *mistura de etnias.

É evidente que a carga do sobrenome move a economia mundial.  A cultura mundial. A paz e a guerra. O amor e o ódio.

Os romanos adotaram sobrenomes porque  precisavam de identidade. Uma identidade marcada pela tirania.

Herdamos essa prática.

Ainda bem que é possível identificar tiranos pelo sobrenome e sua carga histórica de tiranias.

Ninguém está isento dessa carga. Eu, inclusive. Tenho nos anais históricos, um facínora  bandeirante chamado Borba Gato.

E você, qual é a carga do seu sobrenome?

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O Costelinha, uma historinha de amor e gratidão!

10 de junho de 2022 by Marta de Fátima Borba Nenhum comentário

O ano era 2013. Inverno chuvoso e frio. Na volta do trabalho, encontrei-o. Nossos olhares se cruzaram, os dele tímidos e medrosos, os meus apressados com as lidas da vida. Seu jeito de andar me chamou atenção.

Com uma perna encolhida em forma de caracol junto à barriga, quase inexistente,  deveria ser barriga, mas se via apenas pele e ossos das costelas. A princípio  parecia estar com pata ou perna quebrada. Exitou, por um momento me acompanhar.

Mas nossos olhares humano e canino se cruzaram. Os caminhos se cruzaram.

Timidamente me seguiu. Uma figurinha de quatro patas, branco com umas manchinhas pretas indefinidas.

Cheguei em casa, abri o portão e ele, demorou para chegar. Ali ficou, encolhido. Uma bolinha de osso e pouca carne.

Levei até ele água e um pedaço de pão molhado no leite. Engoliu o pão sem mastigar como imaginei.

Ficou ali, como a dizer: – Mereço, mais dona Humana.

Almocei. Fiz um pratinho para ele, tipo marmita!!! Devorou em segundos.

Ao final da tarde. quando retornei à casa, lá estava ele, lépido, faceiro, pata no chão, sem sinal de machucado.

Descobri então, que segurava a perna junto à barriga para diminuir a dor da fome. Apertava o estômago e comprimia o possível para não doer. A dor da fome é cruel. Crueldade que humanos praticam sem escrúpulos.

Enquanto escrevo a história de um cão faminto, o noticiário traz  a triste realidade brasileira, mais de 36 milhões de brasileiros estão  com insegurança alimentar, um eufemismo para  falar de fome. A fome que  dói até as costelas!!!

O cãozinho era apenas mais um dos incontáveis cães abandonados à margem de uma rodovia de alta velocidade. Abandonados com fortes intenções de matá-los de fome ou atropelados. Ao menos que sejam acolhidos. O Costelinha teve sorte. Esse foi o nome que lhe dei. Era possível ver suas costelas, tamanha a magreza.

No entanto, como morava em casa de aluguel, o dono não permitia cães no pátio.

Como proteger Costelinha? Do frio? Da chuva? E da maldade humana?

Passou uma semana camuflado na pequena área externa da casa. Chegou o inverno e com ele chuvaradas. Um vizinho, de profissão bombeiro e alma bondosa doou uma lona preta e fizemos uma casinha improvisada. Durou uma semana a casa.

Uma tarde, quando retornei do trabalho, a ordem de despejo tinha se cumprido. Com a casa demolida e para fora do portão lá estava, Costelinha, desabrigado novamente.

Na época, estava diretora de escola, achei uma alternativa. Levei o Costelinha para morar na escola.

A vida dele se tornou alegre. E alegre ficou a criançada! Estava adotado por muitos.

Costelinha passou a ser o mascote da escola. Guardião!

Quando houve furto do motor do portão da escola,encontrei-o na manhã seguinte agitado, latindo muito, pulando como a querer relatar a presença dos desconhecidos.

Passaram se dois anos. Costelinha cresceu. Cresceu livre. Ganhava presentes como boa ração, banho de pet, casinha nova, cobertor novo…e o que mais gostava quando soava a campainha do horário do recreio. Criança feliz. Cãozinho mais ainda.

Veio o término da minha gestão escolar. Com ele o fim do ciclo do Costelinha na escola.

Ele se tornara um cachorro de porte grande. Eu  mudaria para um apto, cujo prédio não aceitava cães com suas características.

E como privá-lo da liberdade?

Muitos o queriam. Mas ele escolheu a colega Miriam.

Vive hoje num pátio com mais dois amigos.

Nunca me esqueceu. Sempre que passo em frente seu portão vem me cumprimentar. Lambe minhas mãos como eterno agradecimento. E, olha, já se passaram sete anos!!!

Aprendi com ele o que é gratidão de verdade.

*Espero que os brasileiros não tenham esquecido que é possível reverter o quadro de miséria.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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