Estou num tempo de olhar um pouco pelo retrovisor.
Só um pouco, porque não vivo mais no passado.
Embora, o presente seja um tempo possível de conjugar verbos pretéritos e futuros.
E a remissão ao passado, dessa semana, no mês que completo mais um ciclo de vida, é o costume de viver um luto.
No Brasil, país multicultural, o luto pela perda de um familiar se faz de muitas formas.
Vive a experiência de vestir a cor preta, cinza, azul escuro, nunca tecidos coloridos em período de um ano pela passagem de um ente querido.
Vivenciei o trabalho de minha irmã costureira,cosendo camisas de tecido preto para toda a família enlutada. Muitas vezes que a morte surpreendeu a comunidade, ela passava a madrugada confeccionando as roupas de luto.
Era costume toda a família se apresentar no velório e principalmente na cerimônia de sepultamento vestindo a roupa escura. Lembro-me de várias famílias envolvidas na confecção das roupas para vestir todo núcleo familiar, num lindo gesto de solidariedade.
Viúvos e viúvas passavam um ano de luto. Marcado pela vestimenta preta. Aos homens, permitia -se usar uma tarja preta no braço ou fita preta na gola da camisa. Já , a viúva ou a mãe cumpriam rigidamente o costume.
O luto era demonstrado por essa simbologia. Pelo menos na comunidade que cresci, com a influência germânica.
Também aos enlutados não se permitiam frequentar eventos festivos por um ano.
Caso encontrassem viúvos frequentando festas, bailes, era” o comentário compartilhado” da época !!!!
Para a mulher, o julgamento era implacável : a viúva alegre! Alcunha bem perversa. Já, que não se via muitos comentários se fosse o homem descumprir tais regras do luto.
-Por que escrevo sobre esse costume?
Talvez porque a vida do ser social nunca teve sem nenhum valor como atualmente.
O ser social que aprendia a respeitar a vida de outrem, aprendia respeitar também sua morte.
Banalizaram a vida. Banalizaram a morte.
E o luto?
Vai no coração e na alma.
Alguns lutos viram lutas.
Luta, como do pai que pede CPI na câmara de vereadores para averiguar a causa da morte de seu filho. Morte negligenciada por profissional de saúde em hospital público municipal.
Tempos de vidas ceifadas. Tempos de luto e luta incessantes.
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