As palavras e seus movimentos nos contextos sociais é algo que me intriga.

Eu as vejo em movimento contínuo. Os efeitos de sentido delas acontecendo no ritmo da vida contemporânea, nenhuma palavra está imune a eles. Por isso a Língua é mesmo um fenômeno social, vivo, intenso.

A ressignificação das palavras no contexto sócio político, cultural e econômico se dá na mesma rapidez que “esses mundos” vão se também ressignificando na esfera social, onde tudo acontece.

Pincelei uma palavra escrita no balcão do açougue. ISCAS.

Pois bem, a palavra iscas por muito tempo ou o tempo todo fora usado pelos pescadores. “Comprei iscas para nossa pescaria do final de semana” ” Usei minhocas para fiscar o peixe” No máximo, aparecia na linguagem policial ” fulana foi usada como isca para atrair a vítima ou o suspeito…” Agora, usada no cartaz de promoção de carne em lasquinhas no açougue!

Viva a semântica !!!

Abaixo o preço altissimo da carne!!!

Abaixo a exportação da carne bovina e a ausência do mecanismo regulador desse nefasto negócio.

O cartaz promocional anunciava o preço do Kg das iscas: $ 46,00.

Perguntei de que parte do boi eram as iscas. O  atendente respondeu-me”é maminha”. Carne denominada nobre. Nada nobre é o preço de importante proteína que sumiu do prato do povo brasileiro.

A visão mais atenta às promoções do açougue foi possível encontrar outras iscas menos nobres. Iscas de fígado, de pele de galináceo, moídos de toda sorte.

O povo brasileiro está na posição de iscas! Principalmente nesse período de eleições. Tubarões em busca de iscas fáceis. Vem vestido ou transvestidos de terno e gravata, os do agropop ou agropastor, vem em cardume gordo, alimentados por boa picanha, e nada de lasquinhas.                                                                                O alimento deles é recheado por carne nobres e temperado pelo suor e sangue de uma massa trabalhadora que não se permite          comer iscas, mas está na iminência, de novo,  de virar iscas.

Caso o povo lambari não se agrupe tornando-se maior do que a boca do tubarão, mais uma vez será isca facilmente engolida.

 

 

 

 

 

 

 

Compartilhe
0Shares
Escrito por Marta de Fátima Borba
Seguir meu coração foi minha melhor escolha. Sou corajosa. Quero melhorar a cada dia, porque sei que não estou pronta. Preciso evoluir. O que faço ou aquilo que me acontece, tem o poder de mudar meu humor, mas como vou reagir a isso, eu decido de maneira consciente!