Costuma-se ouvir que a maioria das pessoas não sabem esperar. Essa afirmação é bastante contraditória. O que mais fizemos em nossas vidas é esperar. Nove meses para nascer, com exceções é claro. Antes disso, há outras esperas.Uma delas, bem importante, o período fértil da fêmea e do macho. Esperar é, sem dúvidas, o verbo mais conjugado na vida de um ser humano. Lembro-me muito bem da longa espera pelos quinze anos. E bem sabia que não teria festa com valsa, vestido de princesa, uma corte de rapazes e moças… bolo e espumante. Mas esperava com a mesma ansiedade da amiga que estava sendo mais”treinada” para esperar “os quinze” e seu príncipe montado no belo cavalo
Nesta época, já estava focada em aprender as fórmulas da matemática. Delas, dependia o meu destino de estudante. Não poderia reprovar. Meu destino reprovaria, certamente. Entendia-me muito bem com as palavras, mas os números me desafiavam. Eu esperava o futuro. Enquanto o esperava, estudei.
Vida que segue. E as esperas seguem. É a espera pelo término da educação básica.É a espera pelo vestibular, ah! Essa espera é uma das mais angustiantes em qualquer idade, mas para a juventude é período que parece ser o fim das esperas. Definitivamente não é.
As esperam continuam. Pelo primeiro emprego. Pelo estágio. Pela formatura. Pela vaga conquistada no concurso público. Pela promessa da vaga de emprego.
A espera do filho, da filha. Estou falando do período gestacional. Porque há outras infinitas esperas em se tratando de filhos. Desde esperar receber bons resultados escolares até esperar um telefonema, ou um abraço, nem que seja uma vez que outra. Penso, que pais esperam na vida mais que filhos.Até que a roda da vida gire e quem era filho vire pai. Certamente,saberá entender as esperas de pai e de mãe.
Lista de esperas é infinita, considerando as políticas públicas para o povo brasileiro, elas se multiplicam. É a espera da cirurgia. Do remédio. Da vacina. Da vaga na escola. A espera do ônibus. Do trem.Espera-se pelo final do mês e o mísero pagamento. Espera-se, que os corruptos devolvam os milhões roubados. Sonegados. Espera-se as eleições…Espera-se que os projetos não virem promessas.
Lembro uma frase de Guimarães Rosa, no conto Menina de fita verde no cabelo: “velhos que velhavam. Velhos que esperavam.” O verbo esperar é usado como intransitivo, porém como diriam meus alunos digitais : sqn (só que não). Guimarães, em sua genialidade com as palavras, traduz a dimensão que é o ato de esperar. Cabe ao leitor de Guimarães, acrescentar complementos ao verbo “esperavam”, cada um que faça sua lista de esperas. Pode ser a espera do Raul Seixas “dentro de um apartamento, com a boca escancarada cheia de dentes, esperando a morte chegar…ou simplesmente esperar o tempo de Deus.
Para finalizar, porque meus interlocutores estão esperando o final desse post…, ratifico que o verbo esperar é da mesma etimologia que forma o substantivo esperança.
Saber esperar é treinar o verbo esperançar. Espero!!!!!
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