Cresci acompanhando campanhas eleitorais.
Na minha infância, o material impresso era raríssimo.
Então, quando chegava o período eleitoral, chegava vasto material impresso : os santinhos.
No contexto político, santinho é uma publicidade da candidatura, contém foto, partido político, número e um breve histórico dos candidatos e suas proposições caso sejam eleitos.
A denominação “santinho” do panfleto para fins da política partidária chega a ser hilário antes de sua condição irônica.
Primeiramente, o santinho foi usado para divulgar santos, santas e, óbvio, suas santidades.
Na nova versão dos santinhos,de santidade não sobrou nada!
O que mais circulam são promessas falsas. O repertório se parece com as ladainhas religiosas, o diferencial é de que elas, se repetidas com seriedade e devida fé, até milagres acontecem. enquanto que a ladainha política caiu em total descrédito: vote pela educação, pela saúde, pela moradia,pela segurança, pelo lazer e cultura, pelo esporte, pela justiça, pela democracia…Caro leitor,convido lhe a continuar a ladainha.
Conhecemos muito bem a ladainha inscrita nos santinhos,a cada quatro anos, temos a chance de repeti-la. Os mesmos santos com as mesmas promessas.Salvo, raras exceções.
Então,faço remissão de memória e volto à infância.
Os santinhos viravam dobraduras. Surgiam barquinhos,naves,aviõezinhos (a propósito, ontem, esbarrei num exemplar, na esquina movimentada da cidade)Já, a diversão de minha mãe, era “estilizar”a foto dos santinhos.
Vale dizer que era o tempo de candidaturas de homens. Só os santos.Às santas reservava-se apenas o direito ao voto.Estávamos na peleja pelo direito de votar e ser votada.
Com uma caneta, minha mãe desenhava bigode no santo que por ventura não tinha, ou aumentava-o consideravelmente no santo com bigode fininho.Recortava e fazia montagens, colocando saias, vestidos, em total protesto pela falta de santinhas na política. Fazia mais, escrevia trocadilhos com o nome e partidos dos referidos santos. “João Maria, vem aqui com a cabeça e a panela vazia” PPB vem aqui só para feder”
Era pura diversão.
Já que intuímos que daquela ladainha não viria milagres.
Os santos eram santos de pau oco.
ERAM?
